à Mariana Oliveira da Silva

o embrião da amizade foi o abraço abstrato

do primeiro olhar atravessando a timidez.

seu acontecimento cauteloso sabotava com afinco

meu estável exército que dormia por detrás das ideias claras e céticas.

era um perfume deslocando as crostas

e não iria parar até imprimir o branco dos seus dentes,

o verbo da sua língua, a habilidade do seu sorriso,

em algum ponto de partida em mim.

olhamos o território juntos.

respeitamos o silêncio primordial

procurando ensejo a fim de preencher nosso contexto.

foi quando escorregou do seu pensamento

e virou surpresa em mim, um gato!

– porque amo gato e você também –

gatos possuem descolamentos noturnos, expliquei!

gatos me desmancham as barras mais sólidas do tédio,

[você argumentou!

e celebramos nossa ailurofilia.

talvez você saiba o quanto essa contextualização de gato nos jungiu.

seguimos construindo um punhado de impressões sobre nós.

foi um longo tempo dentro de um instante.

aprendi como ver você:

um pouco antes de a noite dilacerar o ventre claro das coisas,

[devo entrar em seu nome.

depois,

devo correr para o alto de seus cabelos.

devo esperar entre o céu e seus cabelos até meu lugar emergir de você.

depois,

devo perscrutar o íngreme que reveste seus afetos

sem afugentá-los de sua planície. acalmo o fôlego, isso é necessário.

depois,

você se abre, pensa que não,

mas vejo a noite te encher com estrelas e um perfume

[que só é perfume porque você sorri.

ponho-me a passear no jardim dos seus suspiros.

observo as cordilheiras que escondem seus medos.

meu pensamento se prende à baía do seu nome, fica suspenso,

orbitando suas mãos erguendo e derrubando gestos.

depois, (o problema)

um vento em sua voz - um vento colonial - mexe algumas coisas

[minhas. eu temo esse vento.

daí a razão de minha prece entre um vento e outro.

tenho casulos, nem metafísicos, nem empíricos - estão em silêncios.

não podem despertar para outras formas além do silêncio.

quero testemunhar um ser humano se abrindo com espanto ou não, para além do que ele sabe sobre seus burgos e que levanta suas

[esperanças.

quero ver esse humano estranhar seu nome nas línguas

que materializam as muralhas, os abismos, a fome.

por enquanto são convulsões que me febreiam.

ainda não tenho um ópio sobre o mundo.

eu articulo seu vento com minha prece e o devolvo.

mas sua voz não hesitou minhas fissuras e arrancou-me nacos idílicos.

construímos caminhos amigáveis e sorrimos para ver se floríamos nossa

[jornada.

assim eu soube te ver e achei oportuno pegar-te em minhas mãos.

minhas mãos equivalem a um desejo panorâmico.

eu tenho pensado gentilmente em você. rabiscado escopos.

até resolver minhas desordens suburbanas.

em minhas mãos remotas te conduzi onde os tesouros são conchas

brotando na carne e, ao abri-las, sorrimos afetos sinceros.