ANTIDIÁRIOS DE JUNHO XXIX
Estou onde não estarei agora e jamais estive,
pois sou o passageiro dos segundos famintos
que atravessam os muros do futuro e coíbem
o presente veloz que passa e não deixa timbre.
Como faço para mergulhar no miolo da poesia?
Se o poema não é um deus o que mais ele seria?
Aperto as mãos contra as mãos e alcanço a linha
da encosta que fornece a rima e em silêncio adia
a morte morrida que por dentro de mim renuncia
ao interesse de se viver nesta terra sem a profecia
— a de um verso nascido bem no olho da ventania.
A rede devora a rede da metáfora esquisita da vida.