VISITA PRA BOCA DA NOITE

Com perfeição recortada

junto à linha do horizonte

vislumbrava-se da estância

silhueta em cor escura

de cavalo e cavaleiro.

Aquarela em movimento

num galope rumo as casas

naquele final de tarde

já quase boca da noite.

Por sobre o ombro do taura

baeta em rubro fulgente

do campomar drapejando.

Formatou campeira estampa

quando esbarrou na porteira.

Sobre a nuca o Ramenzone

descobriu o rosto trigueiro

meio celta, meio bugre.

Apeou num upa o andante

passos lentos, porém firmes

enveredou pro galpão.

Voz pausada, timbrou grave

um – “Buenas noches señores” ...

assomou soleira adentro

como se fora de casa.

Meia dúzia de semblantes

com cautela o receberam

uma acolhida fidalga,

porta aberta aos caminhantes.

sorveu um gole de branca

de abrir baús de memória,

sacou a Guazuvirá

pra falquejar um criolo.

O mate fazendo a volta

ditos, chistes e relatos

entrou na noite e na prosa

ao som de um pinho orelhano.

Andava longe de há tempos

quando no mas, sem motivo,

teve ganas de volver,

rever os campos, os cerros,

os matos, beiras de sangas,

pois, nascido em São Domingos,

ali vivera até os vinte.

Depois o mundo ... tempo andado ...

de repente deu-se conta

que nada apaga o passado,

a vida empurra pra frente

saudade manda voltar

Lembrou noites de ronda

tropilhas e gadarias

em especial dois pingaços

de topar qualquer apronte,

um salgo rosilho moro

e um zaino negro estrelado.

Amigos ... muitos lembrados

indagou de algum até...

um ruivo mui entonado

que viera do Quaraí

mais quieto que mato grande

alma de campos e rios.

Um “loco” cria da estância

desencadeava da idéia

sextilhas de boa rima

costeando um ar de milonga.

Brasas de angico e pau-ferro

avivando labaredas...

a noite nunca se apressa

nesses serões galponeiros.

Entre causos e cantigas,

calam-se vozes e sons,

o tempo meio que para,

pois um verso impõe silêncio.

Já bem alta madrugada

meio ante-sala da aurora

cupinudo como um cerro

chimarrão pra um novo dia

que um galo saúda solito

num canto de tiro largo.

Cada qual toma seu rumo

hay lides e que fazeres.

Os versos, encantos, magia

voaram junto ao andejo

que chegou... boca da noite

e se foi... clareando o dia.

moises silveira de menezes
Enviado por moises silveira de menezes em 11/11/2005
Código do texto: T69967