DE QUANDO O ROSTO DA PRENDA VISITA O SONHO DA GENTE

A voz do vento traz sons

que calam fundo na alma

na noite primaveril

prenhe de angústias e medo

um silêncio que perturba

solito, me leva aos trancos

pela trilha dos recuerdos

que se enfurnaram na mente.

Os sonhos trazem a insônia

na garupa da saudade

fantasmas vêm do passado

repovoando a solidão

nos ouvidos, tamborilam

frases lindas que dizemos

na ingênua e vã tentativa

de amordaçar os anseios.

A noite emponcha tristezas

na prenhez da soledade

mas, por estranhos caprichos,

a névoa do pensamento

faz do pranto alegre canto

se a imagem linda da prenda

por perto, rondando o sono,

visita o sonho da gente.

Meu rumo leva ao caminho

da cristalina cacimba

dos teus olhos sonhadores

de amainar sede e mágoas

que às vezes quase que em prece

não querem, mesmo querendo

e até implorando um carinho

esquivam gestos de amor.

A ilusão com teu sorriso

O sonho toma teu rosto

e os fantasmas permanentes

têm frases tuas cortando

alma, voz e coração

princesa, musa morena

das longas noites insones

despovoadas de carinho.

Por favor, nunca te vás

pelo menos, não de todo

fica por perto rondando

aparece vez por outra

manda um recado qualquer,

oferta um gesto de afago

que fico escrevendo verso

só pra dizer que te amo.

Já quis partir, certa vez,

por certo, partir solito

sem fantasmas, sem passado,

angústias, silêncio, medo

pra começar vida nova

mas não se apagam da memória

fagueiras lembranças tuas,

que teimam morar comigo.

A quem ama de alma inteira

sem alento, sem retorno,

resta o mutismo das preces

aos deuses do bem-querer

para que de manso percebas,

no embargo da voz que canta

que serás a musa eterna

do romantismo dos versos.

A noite vai se estendendo

no rumo da madrugada.

Campeio a ponta do sono

que me busca de reponte

para que o sonho,

outra vez

seja tomado por ti,

pois ele vem com teu rosto

e a ilusão com teu sorriso.

Amanhã, quando acordares,

a tênue réstia de sol

filtrada pela janela

por certo trará notícias.

Que longe estou, saberás

remoendo aquela sentença:

- tu estás como escolheste

eu estou como fiquei.

Também saberás de pronto

que parti, meio aos pedaços

num poncho cinza de ausência

toldando o sol da manhã,

mas calando a voz na garganta,

ao raiar do dia novo

virá dançando este poema

nos rubros lábios da aurora.

moises silveira de menezes
Enviado por moises silveira de menezes em 11/11/2005
Código do texto: T69976