Revirando gavetas

Abri meu armário interior,

Buscava um sentido para a minha vida.

Revirei minhas gavetas num gesto afetuoso.

Encontrei lembranças adormecidas.

Minha história, minhas lutas e minhas conquistas.

Revi em retratos sentimentos esquecidos.

Encantei-me com a magia desse reencontro,

Acariciei meus segredos e minhas angústias.

Despertei em minha alma minhas incertezas,

Meus medos, conflitos e até meus desejos.

Quantos sonhos sonhei!

Sobrevivi a esses sonhos.

Fugi de mim... Vesti-me de solidão

Esqueci de ser feliz.

Apesar de todo o desconforto,

Insisti em vasculhar meus erros.

Mergulhei lentamente em mim.

Minhas fantasias passearam em minha mente.

Queria desfazer-me de recordações,

Minimizar minhas tristezas,

Amenizar a dor que me fazia chorar.

Abri as portas trancadas pelos desencontros.

Retirei do fundo da gaveta alguns planos.

Deparei-me com alguns antigos desamores.

E as paixões? Onde guardei?

Caminhos cruzados, vidas compartilhadas.

Esquecer minhas convicções.

Quis organizar meu caos.

Permiti-me desamarrar alguns papéis.

Reli cartas com o olhar encantado.

Sorri ao me deparar com recordações.

Voltei no tempo, calendário de ilusões.

Lembrei de alguns bilhetes perfumados.

E a rosa seca dentro do livro?

Acordaram em mim emoções.

Ousei abri uma pequena caixa.

Surpreendi-me com velhas escritas,

Palavras de carinhos que escrevi,

Vieram lágrimas em meus olhos.

Por que me escondi?

Onde guardei minha alegria?

Em que gaveta ela estava?

Agora ganhei coragem... Seguir.

Percebo o que desejava,

Fantasias... Nada mais é verdade!

Arrumarei as gavetas,

Igual... Tudo no mesmo lugar.

Vou viver com meus fantasmas.

Libertar-me do que fui.

Mostrar-me ao mundo.

Despedi-me do passado, sorriso disfarçado.

Estou viva! Ser do mundo.

Como um gesto tão simples, fechar gavetas,

Pode causar tanto efeito...

Posso escolher quem serei...

Não há mais lembranças... Não há mais saudades!