Relva Molhada

Tardezinha de cultuada tolerância.

Tarefa tirada.

Alpendre: mirante de plácido cenário.

Roçado de milho capinado, brotado.

Finda outubro.

Sertão: telúrico sertão, denso existir.

Vento chega trazendo negras nuvens.

Alarido de vida.

Chuvisca: seiva que nutre frescamente.

Goteira pingada da telha da beira.

Contraponto ritmado.

Murta: dama-da-noite, doce perfume.

Relampeja. Trovoeja. Céu esbraveja.

Cristalino fio.

Serpenteja: nas íngremes trilhas sinuosas.

Um vento mais forte sacode o dossel.

Abana troncos.

Árvores: recurvando bailam altivas.

Café trazido com bolinhos de polvilho.

Família reunida.

Calados: se encharcam de relva encharcada.

Chuva estiou, empoleiraram as galinhas.

Anoitece...

Ribeirão: pescaria de bagre na enchente.

No colo aconchegante da cama, sonha.

Alma molhada.

Revigorada: dádiva de prana, sentir e Ser.

No sono profundo de sutil pertencer causal

Demiurgo imerge.

atemporal, informe, eudaimônico: Uno!

Cesar de Paula
Enviado por Cesar de Paula em 08/08/2020
Reeditado em 17/06/2021
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