TEMPLO

TEMPLO

entre as sobras de suor

eu vi o seu olhar trêmulo

as suas pálpebras aflitas

que velozes se debatiam

dentro de você e eu percebia

uma eletricidade distribuída

que entrava e que depois saía

tal como entidades espíritas

e não sabia se eu prosseguia

já que você morria mas vivia

e estava totalmente contorcida

feito uma overdose de cocaína

sua baba escorria para cima

e eu ali no seu corpo e vinha

e voltava e enquanto repetia

a sua tabuada de ambrosia

eu quero agora outro trago

de você no bico da garrafa

e no despacho da cachaça

vagabunda da sua safra

no véu escuro da madrugada

e eu acendo este meu cigarro

de fumos proibidos na sacada

a fim de encarar a sua escada

e o degrau do templo do orgasmo

sem direção no sem rumo da paz

ausente e do que já faz a poesia

bem-vinda às carnes da agonia.