Ninguém impede o passo do Tempo

Por que rio, Florinda?

Rio porque é bom

- Ninguém impede o passo do Tempo -

Rio também pelos teus seios já começando

A perder a luta

Contra a força da gravidade

Apesar do teu nome, flor ainda

Não devia rir, Florinda, sei

- Ninguém impede o passo do Tempo -

Devia era fazer um poema para ti

Para teus seios cadentes

Para a ásia acumulada nos teus dentes

Depois de décadas de péssima escovação

E um poema

Para as meninas de seios minúsculos

E um poema para os aleijados

Simulando corcovas

Homens-sapos esmolando

Arrastando-se pelo asfalto das ruas centrais

E um poema

Para os rapazes que não cresceram, rapazes Peter Pan

E para as mulheres com meia dúzia de filhos

E nem meio emprego nem ração do governo

Eu devia fazer, Florinda!

Faço não. Fico é olhando, Florinda,

Olhando e rindo nervosamente

- Ninguém impede o passo do Tempo -

Dos teus seios já começando a perder o jogo

Contra a força da gravidade

Apesar do teu nome, flor ainda

(Belo Horizonte, MG/1970)

William Santiago
Enviado por William Santiago em 10/09/2020
Reeditado em 10/09/2020
Código do texto: T7059586
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