Mais saudades

Foi-se sem despedidas. Só a sutileza do olhar.

Nem deu tempo para pedir desculpas.

E agora não vai mais voltar.

Desculpa-me pelos erros cometidos, de quem tentava acertar.

Pelo sucesso atrasado, que até hoje não veio.

Pelas promessas perdidas, evadidas de mim.

Você foi embora, mãe.

Espera!

Pegou o transporte errado. Embarcou antes do tempo.

Seus passeios viagens não passavam de uma semana.

Mas dessa vez não tem volta. Sem retorno nenhum. Não poderá regressar.

Espera!

Esqueceu sua mala com excesso de bagagem, vazio, saudades.

Ficaram roupas, perfumes, lembranças.

Mas a distância, o tempo, as urgências transformam pessoas.

Um dia você foi forte.

Leoa caçando para alimentar família.

Têmpera de metal.

Agora estava fraca. Serena criança a embalar.

Eu ainda precisava daquela força felina dos tempos de infância.

Que você não podia mais me dar

Farei minha mala também. Ajustarei-me no canto que sobrou.

Mas isso não é problema. Cantos não faltam. O vazio é imenso, invadido pelo ar.

Mãe

Quem vai ouvir meu choro, agora?

Retrucar-me com voz certeza, voz de remédio e cura?

Estou fadada a ficar doente.

Quem sabe a distância não faça tão mal assim?

Obrigando-me a reunir forças que nem imaginava possuir?

Até breve, mamãe. Sei que ainda vamos nos encontrar. Beije papai por mim.