AGRURAS DO TEMPO

Talvez não tivesse chegado a hora

ou tenham se evaporado

todos os líquidos ponteiros,

sem que apercebesse.

Uma espera inútil:

desperdícios das rotações,

fuga das areias

pelas frestas das vidraças

das ampulhetas,

despencar das folhas

na outonal árvore do tempo.

O rebotalho

referendou-se na inutilidade

da própria existência.

E como poderia supor

ter sua posse,

se nem ao menos

soube onde procurá-lo?

De tantas sevícias, suponho,

o presente exilou-se no passado,

e tentou arrastar o futuro

para o asilo da desesperança.

E o que restou, afinal,

do embate da vida

com as oportunidades perdidas?

Apenas o seu espelho quebrado,

o arrependimento tardio

estampado em sua face despedaçada.

Os retalhos de vidro,

que hoje agonizam,

um dia foram reflexos

de esperança,

vítreos vaticínios de realizações

que se exibiam para o meu olhar,

e que me neguei a lhe ofertar,

ou o que é pior:

que me recusei a ser

o objeto da sua reflexão.

© Leonardo do Eirado Silva Gonçalves

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Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 05/10/2020
Código do texto: T7080239
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