POÉTICA

É de bom tom que se escreva poemas

como a dona de casa frustrada e fria,

escreve seus desejos ocultos sob a saia

nos olhos fechados à noite, ao mentir o prazer.

Mais encantador ainda que se escreva o poema,

sendo auto-proclamado poeta galante,

calando a boca e deixando o mundo

ser apenas o que ele é, e pronto.

Não convém ao masturbador das letras,

a escrita açucarada das senhoras frustradas,

onde o poema cheira a bolo açucarado

e mediocridade de sexo burocrático.

Constranger à todos com malabarismos,

esperando ávido a aprovação dos parvos,

é medir a inépcia em um dos pratos,

e em outro a certeza da irrelevância.

Senhoras infelizes e senhores sem libido,

são o veneno da escrita tapa buraco.

Um peso morto de papel descartável,

menos genial que arranjo de letras randômicas,

batucadas num teclado por um macaco.

O que conta ao mundo sedento de curativos,

não são letras ilustradas por campos mal pintados.

Nem o refinamento pseudo-elegante pasteurizado.

É o bafo das putas nas esquinas da tarde,

o entumescimento dos padres sob as batinas,

o assassinato da civilidade em jornais imundos,

e o ódio secreto da dona de casa por todos vocês,

bajuladores de nenhum talento e muita frustação.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 11/10/2020
Código do texto: T7084992
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.