PAIXÃO DERRADEIRA
(do meu livro "Poéticas", 1986)
Eu busco na noite
a estrela primeira
nos bares, taças cheias
pra sufocar a paixão derradeira...
Calçadas e calçadas eu ando
para me esquecer que sou tão sozinho
Só do vento - tenho companhia
Só do vento - tenho carinho...
A nostalgia invade-me o peito
e louco tento de tudo fugir
e finjo minha própria dor
cantando canções pra me distrair
E quando eu passo e um bar
me abre as portas e me convida a entrar
pego a primeira mulher que encontro
e nos seus braços me deixo enamorar
Depois com os olhos fundos de orgia
e o cansaço de tentar não morrer
volto ao abandono e me desprezo
me fecho e a ninguém quero ver...
E com a boca amarga maldigo a sorte
a morte... - este pensamento que não me deixa
e brindo com fel a boêmia - refúgio da dor
solidão, abandono e queixa...