O QUE HOUVE COM O PERFUME?
(do meu livro "Poéticas", 1986)
O que houve com perfume daquela rosa
que havia no jardim à beira do lago?
que fim levaram os beija-flores
que vinham aos bandos sugar o néctar
das flores que haviam por lá?
e as borboletas?
onde estão as borboletas que bailavam
aos raios do sol a música do zéfiro amante
numa coreografia mágica e só delas?
e as abelhas - pingos doirados
de luz e mel, que brincavam entre as vagas do jardim?
e o poeta que cantava em seus versos
esse festival gracioso de vida e candura
num lirismo suavemente adocicado
em que ele mesmo se faz parte dos seus versos?
onde andam todos?
por que já não se fazem mais os versos
que falam de luz, mel, perfumes e flores,
principalmente as flores?
será que encontraram algo mais belo e forte,
ou será que perderam o encanto que tinham pela natureza?
existe por acaso, algo mais apaixonante?
e as musas, existem ainda
ou será que também foram deixadas de lado
como tantas outras coisas
que no tempo ficaram sepultadas
pela eternidade sem glórias?