FUGA
(do meu livro "Poéticas", 1986)
Este pranto que dos meus olhos flui
Nest'hora em que a cismar minha alma antiga
Inquieta, ao tentar evitar evitar-me à esmo
No abismo da vida rolar periga.
Sinto a morte de mim se aproximando
E seu ar gelado a roçar-me as pálpebras
O desespero domina o meu ser
Que em vão procura a luz e não vê paz...
Nesta angústia de viver no abandono
Vou perdendo a fé e até minha crença
Tudo é martírio - solidão - Deus!
Por que deste a mim tão cruel sentença?
pobre alma esta que carrego comigo
Escrava de si, é presa ao passado
Tem profundas cicatrizes que a vida
Cruelmente com seu ferro tem deixado.
Contudo, se a morte me der conforto
E para sempre findar esta angústia
Que venha buscar-me enquanto é noite
Quero morrer antes do raiar do dia...
Já que a vida é só tormento e dor
E até meus sonhos deixaram-me ao léu
Que me resta se nem a luz eu encontro
Mesmo quando em fuga procuro o céu?
Foge-me a esp'rança - já não sei de mim
Já nada resta e nada importa agora
Eis que o fantasma da morte me chama
Fecho os olhos - já é finda minha hora...
Deixo, pois gravado aqui para sempre
Minha última aventura nesta terra
E me perdoem eu peço aqueles que veem
Pecado numa alma que por amor erra...