CASA DE PAU-A-PIQUE
(do meu livro "Poéticas", 1986)
"à minha mãe, Lucinda Rosolen Pimentel"
Casa de pau-a-pique
coberta de sapê
em noite de lua cheia
mil estrelas a gente vê.
Lá no alto da colina
lá bem pertinho de Deus
moram lá tantas saudades
e muitos sonhos meus...
Lembro-me papai e mamãe
e o grande amor que nos unia
aquele velho pé de cedro
e a doce sombra que fazia.
Nas suas paredes o meu pai
pendurava suas traias de peão
sua espingarda cartucheira
e o embornal de munição.
Minha mãe, sempre contente
cantando, trabalhava sem cessar
toda tarde na janela esperava
meu pai de sua lida regressar...
Dois tempos dividem o meu eu
dois tempos bem desiguais em verdade
minha vida e traços campal
e meus desenganos e dias banais da cidade.
Casa de pau-a-pique
que o progresso e a vida moderna
esqueceram, suas paredes em ruínas hoje caindo
retrato triste, que o abandono modela...
De um passado onde se podia ser simples
me traz lembranças, e ao vê-la, fico triste
porque você casinha, me fala da vida boa
e da felicidade de uma época que já não existe...