O SONHO DO POETA
(do meu livro "Poéticas", 1986)
Vejo um moço donzel que sonha
com a dríade - musa risonha
à sombra da folhagem vaga
confessa aos ventos seus anseios
da virgem beijar as mãos, os seios
passear co'ela - nus - pelas plagas
Poder beber dos teus perfumes
revelar co'afagos seus ciúmes
causando inveja até aos cuitelos
fazer de flores um diadema
deitar nas pétalas um poema
para enfeitar os teus cabelos...
_ Vem mulher! Deleitar nas plagas
sinta a meiga brisa que afaga
vem ouvir d'um riacho o murmúrio
junto ao portal daquela ermida
lá onde um anjo em plumas habita
viver nosso amor em dejúrio
Vamos colher lírios nos prados
correr pelos vergéis doirados
deste gótico bosque erguido
vamos buscar na estrela vésper
os sonhos que derivam do éter
e fazem do vate u'atrevido
Ó vento amigo! Vá e diga a ela
que vive nua entre os ramais da hera
que a pomba do meu peito voou
inquieta a brincar com as flores
e ao voltar 'stava cheia de amores
porque co'ela se encontrou
_ Sonha poeta! Teu sonho em flor
embalde ou não é um louvor
que ela já sabe teu desejo
pois teu diálogo com o vento
das várzeas chega ao firmamento
e em resposta manda este beijo