DUAS FOLHAS
(do meu livro "Poéticas", 1986)
Éramos duas pequeninas folhas
duas folhas de árvores vizinhas
e eu sonhava tanto contigo
tua beleza a tudo dava vida
E eu te fitava tanto...
como o poeta que fita a lua
em busca de inspiração
e eu te fitava tentando
acalmar a voz que gritava
dentro de mim na ânsia louca da paixão
E quantos dias passei
só querendo tua atenção
só querendo teu amor...
E quando na primavera
quantas vezes busquei em vão
as cores dos teus olhos...
quantas vezes busquei
na brisa quente o aroma dos teus seios...
Quantas vezes chorei tal qual um beija-flor
que tem no peito as mágoas de um amor perdido
da flor que entender-lhe não soube
seus singelos anseios...
E quando no verão, quantas vezes
brinquei de esconde com os pardais
quantas vezes imitei o alegre bailar das borboletas
e quantas vezes me pintei com as cores do sol
só pra te agradar, só pra te ver sorrindo...
E quando no inverno, quantas vezes
desejei teu corpo para juntos nos aquecermos
na mesma chama do mesmo amor...
éramos duas folhas de árvores vizinhas...
duas folhas...tão distantes...
E bastou apenas um outono para desfazer de vez
todos os meus sonhos de amor, ao levar-te
para sempre na garupa do vento que dos meus sonhos
nada sabia...
e levou-te de mim por caminhos ainda mais distantes
e depois a mim, a morrer de dor no chão
sozinho... Triste...
sem saber de ti...