RESTAURAÇÃO

Ainda procuro o grito

amordaçado na minha garganta

com as cordas da tua partida.

Esperei

no parapeito do tempo

o eco das tuas palavras, mas

se petrificaram

na mudez da tua voz

e se precipitaram

em dolorosos silêncios.

Recusei-me a depositar o meu amor

na sepultura que o seu abandono cavou

Na lápide inconclusa escorrem

tintas de mórbidas esperanças,

tíbias gotas que

caem sobre as últimas flores

que você recusou.

Eu que, amiúde, não empreendo

sacras devoções,

passei a doutrinar-me

no culto da tua ressureição,

aguardando milagres

improváveis,

para um coração dado

a ateísmos afetivos.

Mas,

em se tratando da governança divina,

deixo-me seduzir pela crença

de que tua partida

cumpre o didático

ritual de restauro da minha fé.

Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 06/11/2020
Código do texto: T7105441
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