SONHOS PARALELOS
(do meu livro "Rosas Do Vento", 1987)
Miro meus sonhos na linha do horizonte
onde longe, só meus pensamentos alcançam.
De olhos fixos nos trilhos deste trem,
é que prevejo a hora de encontrar com a Luz...
Passa poste, passa árvore, passa casa
vejo gente, vejo campo, vejo vaca
vejo rios, vejo a vida, vejo o medo
e tudo vai passando, tudo vai ficando pra trás...
Pela janela desse trem, minha ilusão,
eu vejo multidões, enquanto sigo sozinho...
Vem a chuva, mas não vejo seus pingos,
mas, chove, chove torrencialmente
e as certezas, as fantasias, as esperanças,
os adeuses, os risos, as lágrimas,
se misturam ao som estridente
do apito do trem...
O trem, minha ilusão, que me leva
para onde meus pensamentos e meu coração
me pedem para ir...
E riem de mim, os meus sonhos, que só agora
percebo, estarem ali, paralelamente comigo,
sobre os trilhos, lado a lado...
Ah! se eu tivesse o bem que eu tanto quero,
eu não corria assim...
Se o bem que eu tanto quero me quisesse,
eu não sonharia assim...
E o trem, segue seu itinerário,
e o meu desespero a um determinado momento,
passa a se transformar em algo hilário...
Rio de mim mesmo, penso estar louco,
mas não é loucura, é só cansaço.
Meu olhar se perde pela janela à fora
e passa poste, passa casa, passa árvore,
passa o tempo, passa a vida, o mundo...
o mundo?
Passou...
Vai seu maquinista!
bota lenha na fornalha
faz ir mais rápido este trem
leva pra longe daqui o meu coração
que ele é frágil e jovem ainda,
e nada entende de sofrer...
Passa poste, passa árvore, passa campo
passa isso, passa aquilo...