AUTORETRATO
(do meu livro "Rosas Do Vento", 1987)
Em rápidos traços,
ora incertos ora ocasionais
inscrevo no papel
um esboço quase antigo
de mim mesmo.
Um rosto comum - mas triste
um quase sorriso
visivelmente simulado - matemático
um olhar distante...
marcado pelo sal da lágrima
que a vida fez brotar
e que um vento menos avisado
veio e secou.
os cabelos - pensamentos
cheios de saudade (estranha saudade)
de um tempo em que
sequer vivi ou conheci.
Sinto em mim
minha própria ausência
e nessa solidão franca e aconchegante
vivo momentos de pavor e de descontração.
Ela e eu às vezes somos a mesma coisa.
Falo o que penso - ouço apenas o que quero ouvir
sou o que sou e sou triste - complicado - poeta.
O tempo me negou muitas coisas
entre elas, o riso sincero de contentamento
o amor e as flores...
Mas, me deu em troca,
anos e anos de mim mesmo...