O DIA

(do meu livro "Rosas Do Vento", 1987)

O dia amanheceu

com cara de noite.

Chuvoso e frio - muito frio.

Triste, enfim.

Ninguém ou quase ninguém

se vê pelas ruas,

não há nenhuma ave no céu...

A cidade cinzenta

parece não ter vida

parece ser um elo perdido

entre a realidade e a realidade...

Ligo o televisor

e o jornal noticia o que

é lamentável, o que parece

inevitável, sem o ser...

O dia amanheceu

e trouxe consigo, seus mortos

vítimas do frio e do abandono

e do descaso...

A estatística é cruel

e já prevê outras mortes

como se fizesse apostas

num jogo qualquer.

Ironia ou não,

o sol aparece por instantes,

como quem vem dar seu testemunho

e registrar seu pesar...

A cidade respira esse momento

de luz - que pouco dura

e o dia, disfarçado de dia

se volta novamente

para a noite que se impõe

a noite que esconde a esperança

a noite que esconde a verdade

a noite que esconde a coragem

e a vergonha dos homens...

Wilmar J Rosolen Pimentel
Enviado por Wilmar J Rosolen Pimentel em 13/11/2020
Código do texto: T7110771
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