SETE ESPADAS DE DOR QUE LHE ATRAVESSAM O PEITO

O corpo da miséria cravejado de ódio,

exposto ao mundo por espelhos escuros,

atropela o coração da mãe vestida de roxo,

e vira escárnio no grande circo do perdão.

São duas medidas do seu suor derramado,

por um centímetro da paz que nunca vem.

É o julgamento forjado na balança da mentira,

onde a palavra faz curva e lhe arrasta pelos pés.

Cada reza é parte da corrente que lhe prende,

envenenando a água do batismo com desespero.

Enquanto sete espadas lhe atravessam o peito,

até que viver seja a insuportável arte da fome.

No alto das paredes feitas de homens mutilados,

todo o ouro do mundo jaz, testemunha do mal.

Anjos de pés sujos são o deserto de sua alma,

e o vinagre que lhe queima a boca quando sedento.

A esperança ulcerada aprisionada no escapulário,

não lhe tira dos olhos a imagem do que está errado.

Lhe queima a pele preta como ferro em brasa

porque é cativo como mulher, criança e animal.

No fim, os cravos das mãos lhe são arrancados,

e no centro do palco, está mudo o crucificado.

A palavra novamente faz curva entre os montes,

e morre inutilmente entre armaduras e concreto.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 13/11/2020
Código do texto: T7110920
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