SETE ESPADAS DE DOR QUE LHE ATRAVESSAM O PEITO
O corpo da miséria cravejado de ódio,
exposto ao mundo por espelhos escuros,
atropela o coração da mãe vestida de roxo,
e vira escárnio no grande circo do perdão.
São duas medidas do seu suor derramado,
por um centímetro da paz que nunca vem.
É o julgamento forjado na balança da mentira,
onde a palavra faz curva e lhe arrasta pelos pés.
Cada reza é parte da corrente que lhe prende,
envenenando a água do batismo com desespero.
Enquanto sete espadas lhe atravessam o peito,
até que viver seja a insuportável arte da fome.
No alto das paredes feitas de homens mutilados,
todo o ouro do mundo jaz, testemunha do mal.
Anjos de pés sujos são o deserto de sua alma,
e o vinagre que lhe queima a boca quando sedento.
A esperança ulcerada aprisionada no escapulário,
não lhe tira dos olhos a imagem do que está errado.
Lhe queima a pele preta como ferro em brasa
porque é cativo como mulher, criança e animal.
No fim, os cravos das mãos lhe são arrancados,
e no centro do palco, está mudo o crucificado.
A palavra novamente faz curva entre os montes,
e morre inutilmente entre armaduras e concreto.