JESUS CATULADO
Sequestraram minhas significantes torturadas,
e delas fizeram verdades brancas, enganadas.
Alçado em cruz às casas boas, em paredes imaculadas,
de onde, dizem, vejo tudo como as insones beatas.
Me impingiram o Brasil, sem impulso e sem mulata,
para domesticar as carnes vibrantes, taradas,
justificando a chicotada na pele do povo servil,
e o estranhamento triste do Exú da encruzilhada.
Do alto, onde sou preto, coração partido e espanto,
não vejo arte no conto enigmático dos letrados.
O inferno lhes penetra a alma como vinho barato,
e desconfio de deuses que não dançam por recato.
O peito é ferida de mulher sem nome, apedrejada,
propriedade repulsiva do senhor da madrugada.
O mesmo cão rancoroso das mulheres alternativas,
carbonizadas pelo ódio em milhares de avenidas.
Se ao meu lado direito tivesse a lei e a revolta,
nem um sobraria em meu nome, nem pó.
Seria o tempo de olhos arrancados pela vergonha,
de quem prendeu seu sexo na riqueza da ignorância.
Aqui nunca mais voltei, porque o tempo é triste.
O mundo se cobre de roxo, da realeza do engano.
Não mais se farão encruzilhadas para o ser humano,
porque o preço da alma é a curva maior que existe.