JESUS CATULADO

Sequestraram minhas significantes torturadas,

e delas fizeram verdades brancas, enganadas.

Alçado em cruz às casas boas, em paredes imaculadas,

de onde, dizem, vejo tudo como as insones beatas.

Me impingiram o Brasil, sem impulso e sem mulata,

para domesticar as carnes vibrantes, taradas,

justificando a chicotada na pele do povo servil,

e o estranhamento triste do Exú da encruzilhada.

Do alto, onde sou preto, coração partido e espanto,

não vejo arte no conto enigmático dos letrados.

O inferno lhes penetra a alma como vinho barato,

e desconfio de deuses que não dançam por recato.

O peito é ferida de mulher sem nome, apedrejada,

propriedade repulsiva do senhor da madrugada.

O mesmo cão rancoroso das mulheres alternativas,

carbonizadas pelo ódio em milhares de avenidas.

Se ao meu lado direito tivesse a lei e a revolta,

nem um sobraria em meu nome, nem pó.

Seria o tempo de olhos arrancados pela vergonha,

de quem prendeu seu sexo na riqueza da ignorância.

Aqui nunca mais voltei, porque o tempo é triste.

O mundo se cobre de roxo, da realeza do engano.

Não mais se farão encruzilhadas para o ser humano,

porque o preço da alma é a curva maior que existe.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 14/11/2020
Código do texto: T7111624
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