LIRA CASUAL
(do meu livro "Lira Casual, 2000)
Já não reflito
sobre aquilo que falo
Sou o mesmo quando grito
e quando me calo
Evito julgar
As prioridades do ser
Pois nem aquilo que me define
Comigo irá morrer
Não me importo
se sou ouvido ou ignorado
Não tranco a minha porta
mas gosto do anonimato.
Há muito me desfiz
dos sonhos que tive
Em meu viver pacato aprendi
que quem apenas sonha, não vive.
Afinal quem só de razão
alimenta o ego e a timidez
descobre cedo ou tarde que suas teses
não passam de insensatez
O velho espera o novo
a morte abraça a vida
e a fé que arrasta o povo muda
conforme a pena ou a graça recebida
A cólera não tem remédio
o homem morre de si mesmo
E pior que o amargor e o tédio
é saber que vivemos à esmo...
Ao bardo, que resta afinal?
calar-se ou mentir?
escolher entre o bem e o mal
viver ou simplesmente existir?
O certo é que enquanto as guerras enterram
seus vivos em poço profundo
os vermes da terra esperam
pacientes, o fim do mundo...