MINHA ÚLTIMA LÁGRIMA
(do meu livro "Lira Casual, 2000)
Minha última lágrima não será
esta que choro agora, nem será
aquela que cair por ela...
Minha última lágrima
não será de tristeza, não quero
guardar em meus olhos amargas lembranças
nem quero deixar de mim
a imagem de um homem triste.
E não há de ser vã, a minha última lágrima
posto que virá em forma de protesto,
porém, não terá a pretensão
de remir as dores do mundo,
pois de nada isso adiantaria
nem tão pouco bastaria
para sanar todas as feridas
nem aliviar os sofrimentos...
E não chorarei aquela que será
a minha última lágrima ao vento,
pois que vale uma lágrima ao vento?
Não terá hora marcada
nem há de vir a público ou noticiada
nem anunciada nem comentada.
Minha última lágrima será aquela
que molhando a terra, fará brotar a semente
que molhando a terra, fará nascer uma flor,
a forma mais lúcida de um protesto...
Minha última lágrima será aquela
que calará a minha voz e levará meu grito
e nela, os homens se reconhecerão
e se envergonharão de não chorarem comigo...