VALSAS FRANCESAS
O escândalo se dá quando o sol nasce,
invadindo de forma inapropriada o aposento,
ofendendo as retinas com otimismo amarelado,
lembrando que não acabou-se o mundo à noite.
Retiraram-se os insetos que vigiam o sono,
e pequenos ódios serão motivações do dia.
Café previsível na sala de um bege entediante,
e jornal com peculiaridades da vida deselegante.
Intimidades não solicitadas e quase repulsivas,
se estabelecem entre fatias de pão e margarina.
Tudo tem gosto do que foi comido anteontem,
e será esterco que não serve para florescer jardins.
No caminho de tudo tem mais que expectativas.
Tem sombra de pesadelo e ressaca de vida.
Viver tem gosto de inflamações e dissonâncias,
acomodadas todas em bolsos e reentrâncias feias.
Amanhã, será um despropósito filosófico colossal,
oculto em livros dos quais não se fazem questão.
O mesmo asco de saber-se futuro habitante na cova,
moverá as vontades que trancam a todos dentro da vida.