ACABOU MAS TEM

Às vezes eu sou para sempre, em outras, rápido;

há dias que moro em Deus, em outros, no Diabo.

O vírus voltou sem ter ido e sei de cor os mapas

dos desfiladeiros e das frestas invisíveis da casa.

Insisto nesse ponto final feito se fosse o cadeado

a fim de deter o poema no quadro; mas ele escapa

dos grilhões e do varal onde acabaria pendurado

como prêmio de quem não tem a sua propriedade.

A manhã desliza sob a estopa bicolor dos espaços

e dos corredores cinzas que cirzem o seu bordado.

Sobre a clorofila ainda molhada da chuva passada

escrevo num aroma incolor que não existe de fato.

Deslizo e retorno ao arquivo em branco, agoniado

no clorofórmio do verso que recusa ser encerrado.