NÃO JULGUES MAL O POETA, SENHORA

(do meu livro "Lira Casual, 2000)

Não julgues mal o poeta, senhora

Que tão triste - sem consolo chora

Doloridos ais - fados horríveis...

Que a vida cruel no peito lhe pôs

o germe vadio do amor atroz

A flor do mal de atos imprevisíveis...

Não rias, pois teu riso pra ele é morte

Basta a dor que lhe reserva a sorte

De ser no mundo um ser solitário...

Não digas sequer palavra amiga

Pois vais mesmo aumentar a ferida

Que tanger-lhe a alma - furtivo fadário...

Não vence o bem, o mal pela espera?

O inverno não cede à primavera?

Não chora o céu pra que o sol se vingue?

Bem, sua dor também é passageira

Ninguém é infeliz a vida inteira

co'o tempo, tudo que é ruim se extingue...

O poeta, senhora, é um astro errante

Sua vida é por demais inconstante

Qual não é, o vento nos cabelos

Sua dor, inventada ou não, é um dom

De mostrar que em tudo há um lado bom

Que os males, cabe ao tempo, vencê-los...

Mas não te impressiones, nem te enganes

Co'a lágrima - débil gota a fluir

Desses olhos tristes, olhos mouros

Olhos que sabem tão bem mentir

Pois triste é o poeta que não chora

Seus vãos queixumes, seus vãos lamentos.

Como a ave canora a piar nas matas

Tem no sofrer seu contentamento

Não sabes que o pranto é um artifício

Que usa para aprimorar seu ofício

Nas horas mortas sem companhia?

Não julgues mal o poeta, senhora

Que tão triste e sem consolo chora

Pois que enquanto chora, faz poesia...

Wilmar J Rosolen Pimentel
Enviado por Wilmar J Rosolen Pimentel em 20/11/2020
Código do texto: T7116356
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.