AQUI, NESTE RECANTO

Aqui, neste recanto

faço minhas orações a Téspis

e digo a Baudelaire que suas flores nunca foram más

mas neste recanto eu busco a reflexão na forma exata

do momento preciso

a hora do parto da poesia

forçado, natural

mas um parto

qual é o verdadeiro soneto deste recanto?

qual é a verdadeira voz que me chama de volta à realidade?

terra

fogo

luz

amor

saudade

poesia

poetisa

poemúsica

poedor

arpoador dos versos de meu recanto secular

Ah! desculpem-me se sou o que restou de um poeta

se sou algo que não seja válido ante meus anseios

sou um partícula sóbria neste recanto que se faz canto quando eu mudo minha voz

quando eu mudo minhas vibrações

Aqui, neste recanto

não sobrou nada depois da chuva de violinos do meu quintal

nada

nada

somente o ecoar de uma voz tenor que diz:

"Aqui, neste recanto

faço do meu medo o canto

e do meu canto

o gritar de vozes,

de lamentos, lamúrias, dores, partos

danças, chicletes, águas..."

Até que enfim um som se faz lúcido

o som da minha memória que luta contra o chão

pra ver onde este recanto é fiel e duro

fugaz e forte

precisamos saber onde estão os poetas que renunciaram a vida por mais um minuto de arte

Estou neste recanto.

Por onde meus pés passarem

estarei escrevendo como quem ouve música no parnaso.

Valdson Tolentino Filho
Enviado por Valdson Tolentino Filho em 13/11/2005
Código do texto: T71168