OBITUÁRIO
Com sorte, essa extravagância de acordar
se dará amanhã, como tem se dado há anos.
Não haverá surpresas e se houver,
terá a pertinência de um mal estar ou atraso.
Certamente, o caos se esconderá entre as palavras,
marcando os passos coreográficos pela rua.
E dentro de casa, onde se acomoda a normalidade,
os porões serão culpados por arroubos de consciência.
Permanecerão nos gestos fingidos ao longo do dia,
o desejo peculiar de que tudo acabe logo.
Mas comporemos poesias de alta gravidade,
semearemos a inevitabilidade da finitude
e dormiremos entre culpa e senso de responsabilidade.