DISCURSO PARA A ALMA
(do meu livro "Lira Casual, 2000)
Alma que se crê poeta
na palavra que cultiva
inventando solidão...
Seu universo é um espelho
onde nem tudo que se reflete
pode se chamar poesia
mas pura murmuração...
Alma boêmia - visionária
Cúmplice do seu próprio destino
Por sua escolha esta sentenciada
a uma eternidade de paixão
suportando mesmo as dores
que não são suas, mas do mundo...
Alma noturna - incompreendida
Como dói o seu ato de calar
como mancha e seu modo de aceitar...
Seu infinito cabe num grito
e sua fragilidade metrificada
se aborrece ante o vazio
do instante débil da rima...
Ó alma que vibra na presença
estrangeira da luz
abandona esse campo e foge agora
Que o sonho se acaba
e tudo que tem de seu
o dia vai e leva embora...
Guarde a transparência do seu olhar
e a nenhum impulso atenda
ante o cálice de memórias...
Alma - poeta de ocasião
insustentável é a palavra
insuportável - a solidão...