IMÓVEIS
Perambulo pelos breus da casa e vejo os copos
que refletem a luz âmbar e distorcida do poste.
Nos recantos ouço as sombras que se deslocam
entre a quina do cômodo e a poeira dos móveis.
Elas passam por mim… Eu sinto os seus corpos
sem ossos atravessados sobre o abajur que orna
a cabeceira da cama vazia do quarto sem porta,
ali de onde o poeta, em si mesmo, se transborda.
E mais parece que bebi, em vez de água, uma dose
corrosiva de fora para dentro, de dentro para fora,
esta comichão que percorre a espinha e explode
na boca seca e rarefeita, quase próxima da morte
de nortes que estão suis e de suis que estão nortes
nos vãos das horas que se vão, mas não se movem.