A ROSA QUE TRAGO EM MIM

(do meu livro "Lira Casual, 2000)

A rosa

do meu destino

A rosa

que começo e nunca termino

Não é a flor

referência vaga e indireta

ao espinho.

É a rosa crucial

que trago guardada

em meu olhar distante

em minha boca calada

A rosa

do meu sonho

A rosa

que experimento e suponho

ser feita de antigas

paisagens e mensagens

improvisos e contradições

me embriaga como vinho

me embala como canção

me suborna como beijo

me abate como paixão...

A rosa

inscrita, limitada

indecisa, indefinida

que trago em mim

desde muito longe

de vidas passadas

desperdiçadas em orgias

parte oculta de minha existência

que eu nunca soube exteriorizá-la.

Rosa virtual

enraizada em campo minado

a espera de um deslize

obstinada e indiferente

me provoca, me perturba

me acusa e me sentencia

a viver inerte e confuso

e alheio aos meus sentimentos

sem consolo na dor

e sem convicções ante a razão.

A rosa

latente em mim

me castiga

mesmo quando me afaga

me expõe ao ridículo

mesmo quando me protege

mesquinha

me fere mais que o espinho

A rosa me tem

está em mim

somos um, às vezes mil

às vezes nenhum...

E dói essa cumplicidade

essa condescendência

esse convívio que resiste ao tempo

e obedece somente ao próprio instinto.

A rosa é forte

como o encontro das águas

é frágil como o cristal

é inconstante como o mar

e contraditória como a glória...

Quisesse fosse a rosa

a espada do carrasco e ao menor

movimento, ao menor esforço

ao menor contato desvanecesse todas

as minhas frustrações

e aliviasse o peso do meu fardo

pra depois morrer comigo

mais uma vez, por fim, no esquecimento

como os heróis anônimos

fantasmas de si mesmos...

Wilmar J Rosolen Pimentel
Enviado por Wilmar J Rosolen Pimentel em 26/11/2020
Código do texto: T7121423
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