JUNTOS (separados)

Sou feito de inúmeros eus conjurados

e simultâneos... Sou dois e sou vários,

aquele da esquina acesa ou o do trago

mais forte no balcão velho de mármore.

Sou muitos dentro de um mesmo buraco:

o pirata e o papagaio que repete a palavra

no rastro de um poema; um falso boticário

que mistura os venenos e afia os estilhaços.

Sou uns e nenhuns, tipo o cara que escapa

da verdade única, como o crente do Diabo.

Aposto no homem — só até a página quatro.

Sou o hoje, o ontem — sou você ao contrário.

Não tenho caminho, mas apenas uma fábula.

Fui o que foi, o que está e depois o que passa.