A FONTE DO CEMITÉRIO

Na tétrica Cartuxa, entre pétreos muros,

no lugar do jardim, vê-se um cemitério,

desnudo como um ermo campo funéreo,

sem cruzes, montes ou ornamentos puros:

a erva reveste o fosso, oblívio mordaz;

a mãe sem saber onde o seu filho jaz.

Somente as plantas do claustro, doentias,

podem germinar e crescer neste prado,

em meio aos cadáveres abandonados,

na umidade daquelas paredes frias;

as flores tão gentis jamais penderão

sobre aqueles que dormem no oculto vão.

No meio, dois ciprestes com uma escura

vegetação deixando o seu vil contorno,

enfático arfar de folhagens no entorno

subindo ao céu, enquanto decai da altura

d’uma fonte uma franja e ali se recorda,

como o pranto que dos olhos transborda.

Pelos sagrados ossos dos monges sábios,

a água manava tão clara na vasilha

que me aproximei dela pra consumi-la...

No gélido cristal ao molhar os lábios,

fui tomado por um arrepio forte:

esta água pura tinha gosto de morte!

© Tradução: Ismael Marck, 2020

« La fontaine du cimetière » Poema original extraído da obra « España », publicada em 1845 pelo francês Théophile Gautier.

* Adaptado do dodecassílabos para o hendecassílabo, e o esquema rímico de "AABCCB" para "ABBACC".

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LA FONTAINE DU CIMETIÈRE

A la morne Chartreuse, entre des murs de pierre,

En place de jardin l’on voit un cimetière,

Un cimetière nu comme un sillon fauché,

Sans croix, sans monument, sans tertre qui se hausse:

L’oubli couvre le nom, l’herbe couvre la fosse;

La mère ignorerait où son fils est couché.

Les végétations maladives du cloître

Seules sur ce terrain peuvent germer et croître,

Dans l’humidité froide à l’ombre des longs murs;

Des morts abandonnés douces consolatrices,

Les fleurs n’oseraient pas incliner leurs calices

Sur le vague tombeau de ces dormeurs obscurs.

Au milieu, deux cyprès à la noire verdure

Profilent tristement leur silhouette dure,

Longs soupirs de feuillage élancés vers les cieux,

Pendant que du bassin d’une avare fontaine

Tombe en frange effilée une nappe incertaine,

Comme des pleurs furtifs qui débordent des yeux.

Par les saints ossements des vieux moines filtrée,

L’eau coule à flots si clairs dans la vasque éplorée,

Que pour en boire un peu je m’approchai du bord...

Dans le cristal glacé quand je trempai ma lèvre,

Je me sentis saisi par un frisson de fièvre:

Cette eau de diamant avait un goût de mort !