TÓXICOS

Vejo os cotovelos da tarde, uma jovem senhora

que aparece nas contagens pedantes das horas

que desfilam: vão e se demoram e vêm e voltam

na luz que tinge a nuvem tal se ela fosse de rocha.

Penso nos bonzinhos das redes que se comovem

com as causas alheias, entocados em seus imóveis

trancados: são como robôs, seres fantasmagóricos

sem opinião própria e cheios dessa vaidade tóxica,

a de que o que parece ser é o que de fato importa.

Observo cá o morro — e é de lá que surge o código

oliva de uma nota… Da minha voz que se enforca

nos silêncios do poema e no cristal da mesa posta.