LUA NUA
(do meu livro "Lira Casual, 2000)
Lua nua
que flutua
sobre a terra
como quem erra
à luz de um sonho
qual sentinela
paciente vela
quem no esquecimento
dorme ao relento
pelos cantos do mundo...
Inútil companheira
de uma vida inteira...
constante pintura
da minha loucura
quase sempre questionada.
Fiel companheira
astro complacente
à nossa leviana
aventura humana
corrompida e cega.
Efêmera paisagem
sempre à margem
do vasto egoísmo
que cria esse abismo
entre o céu e a terra...
Tua face oculta
te livra da culpa
das incoerências
das incompetências
das idiotices ideológicas
e políticas-sócias...
Sorte tua
de ser lua
sem respiração
nem conspiração
suspensa no ar...
Enquanto musa
dessa alma confusa,
permita-me entrar
em tua órbita e sonhar
com um mundo melhor,
enquanto refúgio,
terei por subterfúgio
minha poesia vária
semente hereditária
para poder contestar...