POSSIVELMENTE

Desperta em mim o mar como o sangue das veias / anéis sob o flanco dos olhos e da memória. Podia ser. As aves habitantes dos espaços. Podia ser. Entre os vidros expectantes. Querer narrar qualquer paisagem que existiu, o vento e os nervos depurados na pele. Podia ser o encontro de ti num poente imaginário / na cidade de bosques voláteis. Mas. As palavras eram mais exíguas do que sentir. Sentir numa atmosfera de dedos unidos, de lábios exasperados. O silêncio - um vértice desejado / frente a frente / sem outra solução que olhar-te. E toda a luz fluía no vácuo / nesse momento de hipnose.

Demasiado. Demasiado tarde. Volto à grande artéria com as pálpebras originais de quem não sabe do que se perdeu no destino. Pode ser, o brilho do mar irradiante. Digo-me. Jardins da existência, flores crescem em alamedas de nomes póstumos de outros / virás ao encontro provável na próxima noite diferida. Desperta em mim o mar nos espelhos da casa, um encontro aquático do sangue que lateja nos pulsos. Possivelmente.