ARESTAS

A chuva faz fumaças no pé do morro

e tudo em volta se traveste num sonho

acordado, feito um jardim de onde exala

um vapor da umidade da terra molhada

e ciano e cinza e escuro todos se misturam

na orquestra da manhã ou na boca profunda

dos teus beijos do teu laço vermelho intenso

na ponta do ombro deste mantra em segredo.

O meu poema anda bem esquisito, mais parece

um amontoado de palavras que não têm nexo,

exceto o de se alojar numa engenharia reversa

das bolinhas tarjas pretas e que de nada servem.

Vejo a mansidão artificial da casa. E ouço as peles

que se coçam em movimentos curtos. Noto os ecos

de mil silêncios conformados e alojados nas frestas

e na calada da tarde sou teu: preso nas tuas arestas