A CANÇÃO ANDA PELAS RUAS
(do meu livro "Lira Casual, 2000)
A canção anda pelas ruas
feito um mendigo
batendo de porta em porta
com uma viola na mão
e tudo que pede, é um pouco de atenção.
A canção não escolhe esse ou aquele,
não conhece diferenças, não conhece classes
não tem preferências ou preconceitos...
Para a canção, só importa mesmo, é ser ouvida...
A canção espera alguém que lhe dê ouvidos,
como a mulher espera o homem da sua vida,
como a flor espera o orvalho da manhã,
como a lua espera a noite para poder brilhar
e encantar aos poetas e os amantes...
A canção se faz ponte às vezes
para unir duas vidas,
ou mesmo duas nações...
às vezes se faz rio caudaloso e manso
para matar a sede de quem tem sede,
mas às vezes esse rio se torna corrediço
e leva em suas correntezas as dores do mundo...
A canção se faz às vezes, alimento da alma.
E não há nada como uma canção
falando de amor de fé e de coragem
e liberdade, para desabafar a mágoa
que nos aflige o peito...
Por isso e assim, a canção vai de um lado
para outro, cruzando caminhos
batendo de porta em porta
como um indigente, e tudo que pede,
é um pouco de atenção...