ARLEQUINS ENLATADOS
Eu sou espelho que envergonha o criador.
Dou outro lado do equador, onde é sumiço,
segue a diagonal do tambor, mestiço.
Trancando reza em altar de volutas erradas,
pra santo equivocado de causas desvairadas.
Pintei em vermelho o losango da fantasia,
me pus a chorar, e nem havia começado o dia.
Enquanto o canibalismo da noite se desfazia,
sangravam pétalas na ferida da boca vazia.
No cortejo onde antes era chão batido,
cimento pasteuriza lamento que escorre.
Retorna pra dentro do coração partido,
e envenena o palhaço que lentamente morre.
Perdeu-se no relógio um delírio da revolução.
Pintando em aquarela cafona da parede velha.
Quem é aquele, inerte, estirado no caixão?
É o criador antigo, que em meu fracasso se espelha.