ARLEQUINS ENLATADOS

Eu sou espelho que envergonha o criador.

Dou outro lado do equador, onde é sumiço,

segue a diagonal do tambor, mestiço.

Trancando reza em altar de volutas erradas,

pra santo equivocado de causas desvairadas.

Pintei em vermelho o losango da fantasia,

me pus a chorar, e nem havia começado o dia.

Enquanto o canibalismo da noite se desfazia,

sangravam pétalas na ferida da boca vazia.

No cortejo onde antes era chão batido,

cimento pasteuriza lamento que escorre.

Retorna pra dentro do coração partido,

e envenena o palhaço que lentamente morre.

Perdeu-se no relógio um delírio da revolução.

Pintando em aquarela cafona da parede velha.

Quem é aquele, inerte, estirado no caixão?

É o criador antigo, que em meu fracasso se espelha.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 17/12/2020
Código do texto: T7138096
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