EIS QUE FECHO MEUS OLHOS
(do meu livro "Lira Casual, 2000)
Eis que fecho meus olhos
e vejo outra vida
Suspenso no ar, não sinto
a minha imperfeição - a que
chamo corpo (ilusão de mim mesmo).
À minha volta, pessoas, ruas, lagos,
montanhas, pedras, tudo,
é de um branco branquíssimo
e lentamente se move
num sentido anti-horário
e tudo me é estranho...
Estou e não estou
não vejo minhas mãos
não sinto meus pés
branca também é a minha visão.
É como se eu caminhasse nas nuvens
mas não há céu, só sombras
e túneis de fumaça,
a fumaça também e branca
branquíssima...
Ouço murmúrios - quem chama por mim?
ninguém - é apenas o eco
dos meus pensamentos...
_ Vultos que passai por mim, dizei-me:
Por acaso morri?
Que lugar é este afinal
que não consigo definir?
Só sei que é muito frio.
Algo toca meu rosto, parece uma lágrima.
É uma lágrima! Incrível, mas é uma lágrima!
Quisera fugir, mas minhas pernas
não me obedecem e a lágrima
no meu rosto insiste...
Como pode uma simples lágrima pesar e durar tanto?
De repente me transporto
viajo em mim, abro os olhos
e a flor ao vento balança
olho ao meu redor, me encontro
estou de volta de onde não me lembro
de ter saído...
O céu... a praça...as igrejas...
ainda são os mesmos...