Apenas um Negro e ponto...
Negro...
Um ponto...
Negro no espaço...
Um ponto fora da curva
Não precisaria ser Cartola
Pelé no samba ou na bola
Nem ser Mané de perna torta
Sobreviver é que importa.
Não precisaria ser King
Mártir, subir ao ringue
Igual a Mohamad Ali
Nas infinitas lutas por aqui
Negro...
Um ponto...
Negro
Um negro na curva
De pele turva
Por vezes poderia ser João
Do Pulo Campeão
Não precisaria voar pela pista
De pedrinha e carvão
Jesse deixando de joelho
De raiva vermelho
O branquelo ariano alemão
Maldito tirano nazista
Negro...
Sempre há um negro.
O barraco desce o barranco...
Cai...
(Num buraco negro)
Não ser toda hora Mandela
Ter grito preso na goela
Lutar pela terra sem liberdade
Ser o tempo todo a hora da verdade
Dança de guerra com guizos na canela
Como Dandara e seus pares
Gangazuma dos Palmares
Zumbizando pelos ares
O negro tem um buraco...
Na pele
Esvai-se em sangue...
Rubro...
Negro.
(Uma vez Flamengo)
Apenas um negro...
Morto.
Dos navios vindo de Angola
Aos tempos de quilombola
Sentiu a carne rasgar
Chibatas a lanhar
Escorrendo na pele
O sangue de Marielle
Não precisaria os dentes de fera
Agir como Negra Pantera
O gato Negro cruzou a estrada,
(em lugar e hora errada)
Sete vidas tinha para viver
(mil balas perdidas para morrer)
O jeito é por os pés na viagem
Mil vezes subir o Bonfim
Peregrinar em Aparecida
Levar a sua mensagem
Respeitem o seu pixaim
Até o momento da despedida
A luta nesta vida
Nunca terá fim
Um nó no peito.
Era um Brasileiro,
Estatura mediana
(Apenas um negro)
Era preciso viver atento
(e ter sorte).
Perigoso cruzar com a morte.
Um bom sujeito.
(Apenas um negro e . )