Apenas um Negro e ponto...

Negro...

Um ponto...

Negro no espaço...

Um ponto fora da curva

Não precisaria ser Cartola

Pelé no samba ou na bola

Nem ser Mané de perna torta

Sobreviver é que importa.

Não precisaria ser King

Mártir, subir ao ringue

Igual a Mohamad Ali

Nas infinitas lutas por aqui

Negro...

Um ponto...

Negro

Um negro na curva

De pele turva

Por vezes poderia ser João

Do Pulo Campeão

Não precisaria voar pela pista

De pedrinha e carvão

Jesse deixando de joelho

De raiva vermelho

O branquelo ariano alemão

Maldito tirano nazista

Negro...

Sempre há um negro.

O barraco desce o barranco...

Cai...

(Num buraco negro)

Não ser toda hora Mandela

Ter grito preso na goela

Lutar pela terra sem liberdade

Ser o tempo todo a hora da verdade

Dança de guerra com guizos na canela

Como Dandara e seus pares

Gangazuma dos Palmares

Zumbizando pelos ares

O negro tem um buraco...

Na pele

Esvai-se em sangue...

Rubro...

Negro.

(Uma vez Flamengo)

Apenas um negro...

Morto.

Dos navios vindo de Angola

Aos tempos de quilombola

Sentiu a carne rasgar

Chibatas a lanhar

Escorrendo na pele

O sangue de Marielle

Não precisaria os dentes de fera

Agir como Negra Pantera

O gato Negro cruzou a estrada,

(em lugar e hora errada)

Sete vidas tinha para viver

(mil balas perdidas para morrer)

O jeito é por os pés na viagem

Mil vezes subir o Bonfim

Peregrinar em Aparecida

Levar a sua mensagem

Respeitem o seu pixaim

Até o momento da despedida

A luta nesta vida

Nunca terá fim

Um nó no peito.

Era um Brasileiro,

Estatura mediana

(Apenas um negro)

Era preciso viver atento

(e ter sorte).

Perigoso cruzar com a morte.

Um bom sujeito.

(Apenas um negro e . )

Pedro Galuchi
Enviado por Pedro Galuchi em 01/01/2021
Reeditado em 01/01/2021
Código do texto: T7149209
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