Kafka

Me sinto neto de Kafka

ou filho de Gregor Samsa

estranho e inexplicável

vulnerável em mim mesmo.

Quem sou eu?

Me construo por Caetano e por ele glorifico minha fraqueza

diante do meu passado e alegria

que no caminho do tempo eu deixei cair

Sabendo do risco e me acorvadando por isso, não sou nada

nem pra mim nem pra ninguém.

Vaso chinês em casa moderna

Disco velho. Roupa rasgada.

Na cama negra, rolo a noite inteira de angústia e dor.

Bebo uma coca e tudo bem.

Me olho no espelho e vejo dois olhos, pobres e miúdos,

perdidos numa ciranda de perguntas...

Já sei as respostas...

mas corro porque sei que não posso enfrenta-las!

E assim me perco em Kafka.

Como num sonho estranho, agradeço a minha metamorfose odiosa.

Valdson Tolentino Filho
Enviado por Valdson Tolentino Filho em 14/11/2005
Código do texto: T71634