Alter Ego

O eu

que se esgueira

às janelas

da minha alma

e se põe a versejar

acerca das coisas

que o inspiram,

preza a melancolia

que possibilita

o gozo poético.

Entretanto,

o dito cujo

lacrimeja

quando se depara

com a vil certeza

de que nada

nem ninguém

pode privá-lo

da pungente crueza

que reside o íntimo

de quem nasceu

melancólico.

Seres tristes

conseguem se esquivar

do mal-estar cavalar

que os deixam,

por vezes,

macambúzios.

Já os seres melancólicos...

Ah! Quando sofrem,

eles o fazem fervorosamente,

pois não conseguem sequer

recorrer à minúscula flama

que é a ânsia por viver.

Ainda assim,

é mais fácil

um ser triste

cometer suicídio,

porque é do feitio

do melancólico

perder o juízo.

A tristeza é impulsiva;

a melancolia, meditativa.

O eu

que se esgueira

às janelas

da minh'alma

e se põe a versejar

é de fato um poeta.

Contudo, sente medo

de amar.

Não é por falta de coragem

que ele teme o amor

é por saber que o seu coração

é valente demais e até seria capaz

de amar por dois, sozinho.

Sendo um ser melancólico,

ai dele! Que perigo!

Se o seu coração antigo for,

ainda que levemente, partido,

a dor que provém do luto

pode torná-lo vazio.

O eu

que se esgueira

às janelas

da minh'alma

e se põe a versejar,

não sente medo de amar.

No entanto,

receia que a melancolia,

por ser demasiado intensa,

venha a lhe matar.

Jeane Tertuliano
Enviado por Jeane Tertuliano em 21/01/2021
Código do texto: T7165342
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