INÚTIL
(do meu livro "Lira Casual, 2000)
Quando a gente perde
a vontade de continuar vivendo
a morte - essa pirracenta
simplesmente nos ignora
nos esquece - finge que não nos vê.
e cada dia se torna um ano
e cada ano interminável
principalmente quando chega o inverno.
frio besta que não acaba nunca!
congela a alma e o coração vira pedra...
tudo se torna tão inútil...
a gente se torna inútil
de inutilidade tanta que é inútil querer
entender ou explicar.
A janela e a varanda
mostram sempre a mesma paisagem
invariavelmente todos os dias
que chega a dar náuseas.
o tempo parece parado
amarrado sem vontade de passar.
só as nuvens passam...
passam e olham para a terra
murmurando algo estrondoso
choram (para não rirem)
e vão embora...
nem prestam atenção
em minha mão acenando - pedindo carona
enquanto a morte vacila
e brinca de viver (só por pirraça)
nas lâmpadas de neon
pelas ruas que logo ficarão vazias e silenciosas.