O CASARÃO

Vem de longe, do último quarto da calma,

Vem passo a passo no corredor do medo,

Contempla a sala, antigo abajur de cristal,

Houve* dos portais, o sussurro do segredo.

Alvenaria pintada de solidão e guardados,

Escadas abrigando cupins, ruídos de pés,

Toalhas em rendas e lustres entrelaçados,

Gavetas em cômodas incômodas do viver.

Teto de pé direito alto, de pé esquerdo frio,

Janelas miúdas para do mundo não se ver,

Um pomar perdido entre a margem do rio,

O galo mudo, a flor seca, o poste sem luz.

A varanda anda no pó do chão de folhas,

O portão de entrada há muito é de saídas,

O meu olhar se desfoca e sem escolhas,

Mira no céu, o palco de telas restauradas.

*= houve de ter existido

Dado Corrêa
Enviado por Dado Corrêa em 30/01/2021
Reeditado em 30/01/2021
Código do texto: T7172533
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