ODORES DE INFÂNCIA
Quatro paredes aromas
Uma janela bem grande
O cheiro e ruído chorando
Do óleo na frigideira
Fogão à lenha no canto
O odor do alho queimando.
Em cima pingando o toucinho
No varal sempre defumando
Na mesa o feijão já catado
Na tábua a cebola que faz chorar
Pimenta de cheiro e do reino
Uma faca afiada pra cortar.
O sal essencial tempero
Água fervendo no bule
Arroz na panela pra cozinhar
Uma pitada de amor
Enquanto meche não pode falar
No piso rústico chinela se arrasta.
Lenço segurando os cabelos
Um avental para as mãos limpar
Acha de lenha atiçando o fogo
Para as chamas alimentar
Um gato passando mansinho
Na espera do que restar.
O menino pede um bocado
Curioso e sem entender
Porque da pouca atenção
Que se nega a lhe dar
Querendo só um pouquinho
Para a fome enganar.
No rádio uma canção sertaneja
No terreiro galinhas a ciscar
Um cão que ladra sozinho
A noite que não custa a chegar
Um sol bem vermelho a cair
E um vento leve a soprar.