Memorial ao riso esquecido

Memorial ao riso esquecido

Sandra Ravanini

Caminha indene rasgando os risos de papel,

e secando o líquido, sopra o falto nanquim,

restos soltos ante o grafite do manequim,

pó untando o memorial à secura do pincel.

Afagar as asas e a face do frio marfim

esfarelando o giz no sorriso esquecido

de um anjo descorando o rastro umedecido,

apagando a cor de mim, burlando o próprio fim.

Indene, o cinza marfim rasura o próprio céu,

untando a máscara, caminha desde o início

rasgando os risos de papel num precipício

grafitando a face esquecida do mausoléu.

Memorial ao riso incontido espalhando a mó

às poeiras dos papéis no jazigo da estante,

se agora o branco segue quão branco como antes,

o manequim quebra o giz e, in memoriam, vai só.

01/07/2007

13h34