DESTERRO

Quando me fui,

levei comigo até a poeira

dos meus passos.

Nem sequer olhei para trás.

Reduzi a estrada

à medida do último calvário.

E exilei-me de qualquer

recordação.

Bebi no naufrágio

das esperanças,

as remanescentes gotas do cálice

que um dia lhe servi,

mas que ora regurgito,

só para não esquecer o sabor

amargo de uma despedida.

Do silêncio

fiz meu companheiro de travessia,

da compaixão, minha inimiga mortal.

O tempo sepultou

as últimas folhas

das páginas vazias que escrevemos,

das árvores estéreis que nos recostamos.

Sua sepultura

não haverá de requerer tardias exumações.

Talvez me peça uma rosa negra,

um réquiem para o passado infausto,

ainda de óbito frágil.

Em sua lápide,

na nudez do mármore frio,

eu escreverei seu nome

com todas as letras do seu abandono,

do meu degredo

e dos temores de novas ilusões

que ainda estarão por vir,

acumpliciadas com infames

arrependimentos.

Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 04/02/2021
Código do texto: T7175956
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